Considerações sobre o livro “Entre facas, algodão”

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Fábio Bahia
8 de outubro de 2018

CONSIDERAÇÕES SOBRE O LIVRO “ENTRE FACAS, ALGODÃO”, JOÃO ALMINO, 2017, EDITORA RECORD, 192 PÁGINAS.
Entre Facas, Algodão, primeira obra do Imortal da ABL João Almino com a qual travei conhecimento, é o livro que ontem 07/10/2018, devorei em ávidas, compulsivas 4 horas de leitura, com breves pausas para reflexões entre capítulos. Foi, de certo modo, conflitante. Se por um lado a leitura que se provou muito prazerosa me instigou a sorver com voracidade aquelas páginas, por outro, a velocidade com que se sucediam os curtos capítulos legava certa apreensão, tal como água que se esvai incontinente por entre dedos cerrados em concha, ante este sedento leitor; tomava-me, então, certo sentimento saudosistamente piegas.

A obra não apresenta explicação literal para o intrigante título do livro, mas é possível algumas abstrações quer seja por silogismo ou como metáfora. João Almino nos apresenta um narrador autobiográfico que, em curtíssimos capítulos, mescla memórias e atualidades intituladas por datas. Esta curiosa construção impressiona quando se percebe a eficiência com que o autor nos expõe grande parte da vivência do personagem (atualmente septuagenário), imprimido de forma plausível em eventos intensos e frugais, marcantes, como, aliás, deve ser todo personagem que impacta pelo caráter crível.

As breves notas autorais do personagem são dotadas de impressionantes características das obras contísticas, mas com a devida conectividade romanesca; transmitem-nos a agudez de ações, situação e emoções, expondo âmago e alma do ator, mas nega-nos o detalhe do nome, permanecendo recôndito até o fim, mais um ponto favorável, eu diria, há muito mérito em criar personagem incógnito e empático. O único furo possível na trama, que seria da ordem cronológica, referente a uma forte motivação do narrador, é dirimido, propositalmente ou não, pela própria trama que encadeia boas reviravoltas nos eventos finais do livro.

Encerro por aqui estas sucintas considerações, pois muito do que poderia também elencar já foi habilmente incorporado ao livro no texto da orelha por Cristóvão Tezza e posfácio do Professor Hans Ulrich Gumbrecht, que é praticamente um pequeno ensaio sobre obra e autor. Recomendo a leitura de “Entre Facas, Algodão”, e, assim como pretendo fazer, sugiro a busca por demais outras obras já consagradas deste que agora confirmo como excelente autor.