João Almino reencontra a Brasília moderna e arcaica. Moacyr Scliar, Folha de S. Paulo, sobre O Livro das Emoções.

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Folha de S. Paulo, “ilustrada”, sábado, 2 de agosto de 2008

Crítica/”O Livro das Emoções”

MOACYR SCLIAR
COLUNISTA DA FOLHA

João Almino é diplomata e escritor. Como tal, incorpora-se a uma ilustre tradição que inclui, entre outros, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Eça de Queiroz, em Portugal; e, no Brasil, Guimarães Rosa, João Cabral, Sergio Paulo Rouanet, Alberto da Costa e Silva, Affonso Arinos de Mello Franco. Diplomatas em geral têm uma ampla visão do mundo, ao qual acrescentam, no caso brasileiro, a vivência de Brasília, que, por sua curta história, ainda não se transformou num cenário preferencial para a ficção brasileira, como acontece com Rio de Janeiro, São Paulo ou Salvador. Mas não resta dúvida de que a capital federal representa um desafio para os escritores: ela é a expressão política e geográfica de um processo modernista que se traduz na arrojada e controversa arquitetura; é a síntese das etnias brasileiras; é uma cultura sem raízes no passado e, portanto, original (como identificar o sotaque brasiliense?); e é o lugar no país em que mais se encontram estrangeiros. Foi essa vivência que motivou o ficcionista João Almino a escrever a sua Trilogia de Brasília, integrada pelos romances “Idéias para Onde Passar o Fim do Mundo” (1987) -indicado ao Prêmio Jabuti e ganhador de prêmio do Instituto Nacional do Livro e do Prêmio Candango de Literatura-, “Samba-Enredo” (1994) e “As Cinco Estações do Amor”, este vencedor do prêmio Casa de las Américas em 2003. Para Almino, Brasília é a síntese do país, uma mistura de moderno e de arcaico, um cadinho de nossas múltiplas identidades. Uma fonte inesgotável de inspiração, portanto, e não é de admirar que a trilogia tenha evoluído para um quarteto, o que acontece agora com “O Livro das Emoções” (Record). O romance é narrado em primeira pessoa pelo principal personagem, Cadu, um fotógrafo cego, empenhado em editar uma espécie de diário fotográfico que receberá o nome de “O Livro das Emoções”. Entre parênteses, essa melancólica e intrigante combinação, cegueira e fotografia, é bem mais freqüente do que se poderia imaginar e remete a nomes conhecidos como os de Evgen Bavcar, Alison Bartlett e Edoardo Piccinini. João Almino, que aliás também é fotógrafo, transforma as fotos que nem o personagem nem o leitor podem ver em ponto de partida para a narrativa. O resultado é uma espécie de álbum fotográfico, uma coleção de diferentes retratos, cada um representando um personagem e uma história.

Altman
No prefácio, Alcir Pécora compara o estilo de João Almino ao do cineasta Robert Altman (1925-2006), e, de fato, como nos filmes de Altman, o foco narrativo vai “passeando” entre os personagens, compondo um painel (ou um álbum fotográfico): o amigo Maurício, as mulheres com quem Cadu vive, Joana e Aída, Eduardo Kaufman, nêmese de Cadu, deputado envolvido em política e negociatas. Pessoas que retratam a classe média brasileira do século 21. “Toda fotografia é prova de um encontro, às vezes marcado, às vezes fortuito”, escreve João Almino ao final do romance. De encontros marcados e encontros fortuitos são feitas as nossas vidas e a história do país em que vivemos. No caso do Brasil os inexoráveis encontros marcados resultam de um passado elitista e autoritário; os encontros fortuitos são proporcionados pelas inesperadas mudanças que ocorrem em nosso mundo, como estamos vendo no presente momento, em que o Brasil de repente aparece como potência emergente. João Almino soube captar ambos os tipos de encontros. E isso faz de “O Livro das Emoções” uma bela expressão da nova literatura brasileira.

Folha de S. Paulo, “ilustrada”, sábado, 2 de agosto de 2008

Crítica/”O Livro das Emoções”

MOACYR SCLIAR
COLUNISTA DA FOLHA

João Almino é diplomata e escritor. Como tal, incorpora-se a uma ilustre tradição que inclui, entre outros, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Eça de Queiroz, em Portugal; e, no Brasil, Guimarães Rosa, João Cabral, Sergio Paulo Rouanet, Alberto da Costa e Silva, Affonso Arinos de Mello Franco. Diplomatas em geral têm uma ampla visão do mundo, ao qual acrescentam, no caso brasileiro, a vivência de Brasília, que, por sua curta história, ainda não se transformou num cenário preferencial para a ficção brasileira, como acontece com Rio de Janeiro, São Paulo ou Salvador. Mas não resta dúvida de que a capital federal representa um desafio para os escritores: ela é a expressão política e geográfica de um processo modernista que se traduz na arrojada e controversa arquitetura; é a síntese das etnias brasileiras; é uma cultura sem raízes no passado e, portanto, original (como identificar o sotaque brasiliense?); e é o lugar no país em que mais se encontram estrangeiros. Foi essa vivência que motivou o ficcionista João Almino a escrever a sua Trilogia de Brasília, integrada pelos romances “Idéias para Onde Passar o Fim do Mundo” (1987) -indicado ao Prêmio Jabuti e ganhador de prêmio do Instituto Nacional do Livro e do Prêmio Candango de Literatura-, “Samba-Enredo” (1994) e “As Cinco Estações do Amor”, este vencedor do prêmio Casa de las Américas em 2003. Para Almino, Brasília é a síntese do país, uma mistura de moderno e de arcaico, um cadinho de nossas múltiplas identidades. Uma fonte inesgotável de inspiração, portanto, e não é de admirar que a trilogia tenha evoluído para um quarteto, o que acontece agora com “O Livro das Emoções” (Record). O romance é narrado em primeira pessoa pelo principal personagem, Cadu, um fotógrafo cego, empenhado em editar uma espécie de diário fotográfico que receberá o nome de “O Livro das Emoções”. Entre parênteses, essa melancólica e intrigante combinação, cegueira e fotografia, é bem mais freqüente do que se poderia imaginar e remete a nomes conhecidos como os de Evgen Bavcar, Alison Bartlett e Edoardo Piccinini. João Almino, que aliás também é fotógrafo, transforma as fotos que nem o personagem nem o leitor podem ver em ponto de partida para a narrativa. O resultado é uma espécie de álbum fotográfico, uma coleção de diferentes retratos, cada um representando um personagem e uma história.

Altman
No prefácio, Alcir Pécora compara o estilo de João Almino ao do cineasta Robert Altman (1925-2006), e, de fato, como nos filmes de Altman, o foco narrativo vai “passeando” entre os personagens, compondo um painel (ou um álbum fotográfico): o amigo Maurício, as mulheres com quem Cadu vive, Joana e Aída, Eduardo Kaufman, nêmese de Cadu, deputado envolvido em política e negociatas. Pessoas que retratam a classe média brasileira do século 21. “Toda fotografia é prova de um encontro, às vezes marcado, às vezes fortuito”, escreve João Almino ao final do romance. De encontros marcados e encontros fortuitos são feitas as nossas vidas e a história do país em que vivemos. No caso do Brasil os inexoráveis encontros marcados resultam de um passado elitista e autoritário; os encontros fortuitos são proporcionados pelas inesperadas mudanças que ocorrem em nosso mundo, como estamos vendo no presente momento, em que o Brasil de repente aparece como potência emergente. João Almino soube captar ambos os tipos de encontros. E isso faz de “O Livro das Emoções” uma bela expressão da nova literatura brasileira.

Folha de S. Paulo, “ilustrada”, sábado, 2 de agosto de 2008

Crítica/”O Livro das Emoções”

MOACYR SCLIAR
COLUNISTA DA FOLHA

João Almino é diplomata e escritor. Como tal, incorpora-se a uma ilustre tradição que inclui, entre outros, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Eça de Queiroz, em Portugal; e, no Brasil, Guimarães Rosa, João Cabral, Sergio Paulo Rouanet, Alberto da Costa e Silva, Affonso Arinos de Mello Franco. Diplomatas em geral têm uma ampla visão do mundo, ao qual acrescentam, no caso brasileiro, a vivência de Brasília, que, por sua curta história, ainda não se transformou num cenário preferencial para a ficção brasileira, como acontece com Rio de Janeiro, São Paulo ou Salvador. Mas não resta dúvida de que a capital federal representa um desafio para os escritores: ela é a expressão política e geográfica de um processo modernista que se traduz na arrojada e controversa arquitetura; é a síntese das etnias brasileiras; é uma cultura sem raízes no passado e, portanto, original (como identificar o sotaque brasiliense?); e é o lugar no país em que mais se encontram estrangeiros. Foi essa vivência que motivou o ficcionista João Almino a escrever a sua Trilogia de Brasília, integrada pelos romances “Idéias para Onde Passar o Fim do Mundo” (1987) -indicado ao Prêmio Jabuti e ganhador de prêmio do Instituto Nacional do Livro e do Prêmio Candango de Literatura-, “Samba-Enredo” (1994) e “As Cinco Estações do Amor”, este vencedor do prêmio Casa de las Américas em 2003. Para Almino, Brasília é a síntese do país, uma mistura de moderno e de arcaico, um cadinho de nossas múltiplas identidades. Uma fonte inesgotável de inspiração, portanto, e não é de admirar que a trilogia tenha evoluído para um quarteto, o que acontece agora com “O Livro das Emoções” (Record). O romance é narrado em primeira pessoa pelo principal personagem, Cadu, um fotógrafo cego, empenhado em editar uma espécie de diário fotográfico que receberá o nome de “O Livro das Emoções”. Entre parênteses, essa melancólica e intrigante combinação, cegueira e fotografia, é bem mais freqüente do que se poderia imaginar e remete a nomes conhecidos como os de Evgen Bavcar, Alison Bartlett e Edoardo Piccinini. João Almino, que aliás também é fotógrafo, transforma as fotos que nem o personagem nem o leitor podem ver em ponto de partida para a narrativa. O resultado é uma espécie de álbum fotográfico, uma coleção de diferentes retratos, cada um representando um personagem e uma história.

Altman
No prefácio, Alcir Pécora compara o estilo de João Almino ao do cineasta Robert Altman (1925-2006), e, de fato, como nos filmes de Altman, o foco narrativo vai “passeando” entre os personagens, compondo um painel (ou um álbum fotográfico): o amigo Maurício, as mulheres com quem Cadu vive, Joana e Aída, Eduardo Kaufman, nêmese de Cadu, deputado envolvido em política e negociatas. Pessoas que retratam a classe média brasileira do século 21. “Toda fotografia é prova de um encontro, às vezes marcado, às vezes fortuito”, escreve João Almino ao final do romance. De encontros marcados e encontros fortuitos são feitas as nossas vidas e a história do país em que vivemos. No caso do Brasil os inexoráveis encontros marcados resultam de um passado elitista e autoritário; os encontros fortuitos são proporcionados pelas inesperadas mudanças que ocorrem em nosso mundo, como estamos vendo no presente momento, em que o Brasil de repente aparece como potência emergente. João Almino soube captar ambos os tipos de encontros. E isso faz de “O Livro das Emoções” uma bela expressão da nova literatura brasileira.

Folha de S. Paulo, “ilustrada”, sábado, 2 de agosto de 2008

Crítica/”O Livro das Emoções”

MOACYR SCLIAR
COLUNISTA DA FOLHA

João Almino é diplomata e escritor. Como tal, incorpora-se a uma ilustre tradição que inclui, entre outros, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Eça de Queiroz, em Portugal; e, no Brasil, Guimarães Rosa, João Cabral, Sergio Paulo Rouanet, Alberto da Costa e Silva, Affonso Arinos de Mello Franco. Diplomatas em geral têm uma ampla visão do mundo, ao qual acrescentam, no caso brasileiro, a vivência de Brasília, que, por sua curta história, ainda não se transformou num cenário preferencial para a ficção brasileira, como acontece com Rio de Janeiro, São Paulo ou Salvador. Mas não resta dúvida de que a capital federal representa um desafio para os escritores: ela é a expressão política e geográfica de um processo modernista que se traduz na arrojada e controversa arquitetura; é a síntese das etnias brasileiras; é uma cultura sem raízes no passado e, portanto, original (como identificar o sotaque brasiliense?); e é o lugar no país em que mais se encontram estrangeiros. Foi essa vivência que motivou o ficcionista João Almino a escrever a sua Trilogia de Brasília, integrada pelos romances “Idéias para Onde Passar o Fim do Mundo” (1987) -indicado ao Prêmio Jabuti e ganhador de prêmio do Instituto Nacional do Livro e do Prêmio Candango de Literatura-, “Samba-Enredo” (1994) e “As Cinco Estações do Amor”, este vencedor do prêmio Casa de las Américas em 2003. Para Almino, Brasília é a síntese do país, uma mistura de moderno e de arcaico, um cadinho de nossas múltiplas identidades. Uma fonte inesgotável de inspiração, portanto, e não é de admirar que a trilogia tenha evoluído para um quarteto, o que acontece agora com “O Livro das Emoções” (Record). O romance é narrado em primeira pessoa pelo principal personagem, Cadu, um fotógrafo cego, empenhado em editar uma espécie de diário fotográfico que receberá o nome de “O Livro das Emoções”. Entre parênteses, essa melancólica e intrigante combinação, cegueira e fotografia, é bem mais freqüente do que se poderia imaginar e remete a nomes conhecidos como os de Evgen Bavcar, Alison Bartlett e Edoardo Piccinini. João Almino, que aliás também é fotógrafo, transforma as fotos que nem o personagem nem o leitor podem ver em ponto de partida para a narrativa. O resultado é uma espécie de álbum fotográfico, uma coleção de diferentes retratos, cada um representando um personagem e uma história.

Altman
No prefácio, Alcir Pécora compara o estilo de João Almino ao do cineasta Robert Altman (1925-2006), e, de fato, como nos filmes de Altman, o foco narrativo vai “passeando” entre os personagens, compondo um painel (ou um álbum fotográfico): o amigo Maurício, as mulheres com quem Cadu vive, Joana e Aída, Eduardo Kaufman, nêmese de Cadu, deputado envolvido em política e negociatas. Pessoas que retratam a classe média brasileira do século 21. “Toda fotografia é prova de um encontro, às vezes marcado, às vezes fortuito”, escreve João Almino ao final do romance. De encontros marcados e encontros fortuitos são feitas as nossas vidas e a história do país em que vivemos. No caso do Brasil os inexoráveis encontros marcados resultam de um passado elitista e autoritário; os encontros fortuitos são proporcionados pelas inesperadas mudanças que ocorrem em nosso mundo, como estamos vendo no presente momento, em que o Brasil de repente aparece como potência emergente. João Almino soube captar ambos os tipos de encontros. E isso faz de “O Livro das Emoções” uma bela expressão da nova literatura brasileira.