Narrativa delirante. Almeida Fischer, O Estado de S. Paulo, sobre Ideias para Onde Passar o Fim do Mundo

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O ESTADO DE S. PAULO, 23/07/88

Termino, um tanto perplexo, a leitura de Idéias para Onde Passar o Fim do Mundo, romance de autoria de João Almino, agora publicado pela Editora Brasiliense. A história, que não tem uma seqüência lógica, se passa em Brasília em uma nova era. Poder-se-ia, talvez, falar em surrealismo literário, se o significado fosse apenas um fluxo desordenado da memória. Mas a narrativa é bem mais do que isso, em matéria de elementos complicadores, o insólito surgindo com muita freqüência no curso da história ou das histórias cruzadas, perturbando assim o entendimento do significado mesmo para leitores de boa qualificação.

João Almino é diplomata de carreira, tendo vivido em vários países estrangeiros, inclusive na França, e professor de Ciência Política na Universidade de Brasília. Idéias para Onde Passar Fim do Mundo é sua estréia literária.

O romance parte de uma fotografia de grupo, cujos participantes se transformam em personagens de um roteiro de filme que o narrador deixou inconcluso ao morrer. A personagem narradora é um morto, um fantasma, portanto. Na construção do estranho roteiro, o fantasma, que é o narrador, passa a assumir a vida das personagens, penetrando-lhes o íntimo para movimentá-las, isto é, para fazê-las reviver os próprios destinos. Por vezes, a narração se processa ao nível linear, pelo menos aparentemente. No entanto, algumas personagens passam de súbito da realidade comum, inteligível por qualquer tipo de leitor, para uma irrealidade alucinante que somente poderá desnudar-se com a decifração de numerosos elementos referenciais míticos, místicos, irracionais, fantásticos em que se apóia.

O romance é, sem dúvida, um exercício de inteligência e cultura geral, em função do que nascem os paradoxos, as antinomias, os enigmas mais perturbadores. Como se tudo isso não bastasse – o fantasma narrador assumindo a vida das personagens como se seu espírito houvesse baixado num terreiro de macumba para animar as criaturas estáticas da fotografia, e outras que ali não estão -, a narrativa aborda a aparição de discos voadores, o governo de um presidente negro do Brasil e uma nova era a partir do Ano I, anunciando o fim do mundo. Deve-se dizer que a linguagem literária utilizada é das melhores e que as reflexões sobre o homem e seus relacionamentos refletem a vida tumultuária de nossos dias.

Outro elemento complicador surge no final do romance: um fantasma, que antes era apenas personagem, passa a se incumbir da narrativa, corrigindo erros e equívocos do primeiro narrador. Mas logo depois abandona o leitor no maior suspense, nas últimas linhas do livro: “E aqui interrompo para beber água. Você me espere, que eu volto já”.

O ESTADO DE S. PAULO, 23/07/88

Termino, um tanto perplexo, a leitura de Idéias para Onde Passar o Fim do Mundo, romance de autoria de João Almino, agora publicado pela Editora Brasiliense. A história, que não tem uma seqüência lógica, se passa em Brasília em uma nova era. Poder-se-ia, talvez, falar em surrealismo literário, se o significado fosse apenas um fluxo desordenado da memória. Mas a narrativa é bem mais do que isso, em matéria de elementos complicadores, o insólito surgindo com muita freqüência no curso da história ou das histórias cruzadas, perturbando assim o entendimento do significado mesmo para leitores de boa qualificação.

João Almino é diplomata de carreira, tendo vivido em vários países estrangeiros, inclusive na França, e professor de Ciência Política na Universidade de Brasília. Idéias para Onde Passar Fim do Mundo é sua estréia literária.

O romance parte de uma fotografia de grupo, cujos participantes se transformam em personagens de um roteiro de filme que o narrador deixou inconcluso ao morrer. A personagem narradora é um morto, um fantasma, portanto. Na construção do estranho roteiro, o fantasma, que é o narrador, passa a assumir a vida das personagens, penetrando-lhes o íntimo para movimentá-las, isto é, para fazê-las reviver os próprios destinos. Por vezes, a narração se processa ao nível linear, pelo menos aparentemente. No entanto, algumas personagens passam de súbito da realidade comum, inteligível por qualquer tipo de leitor, para uma irrealidade alucinante que somente poderá desnudar-se com a decifração de numerosos elementos referenciais míticos, místicos, irracionais, fantásticos em que se apóia.

O romance é, sem dúvida, um exercício de inteligência e cultura geral, em função do que nascem os paradoxos, as antinomias, os enigmas mais perturbadores. Como se tudo isso não bastasse – o fantasma narrador assumindo a vida das personagens como se seu espírito houvesse baixado num terreiro de macumba para animar as criaturas estáticas da fotografia, e outras que ali não estão -, a narrativa aborda a aparição de discos voadores, o governo de um presidente negro do Brasil e uma nova era a partir do Ano I, anunciando o fim do mundo. Deve-se dizer que a linguagem literária utilizada é das melhores e que as reflexões sobre o homem e seus relacionamentos refletem a vida tumultuária de nossos dias.

Outro elemento complicador surge no final do romance: um fantasma, que antes era apenas personagem, passa a se incumbir da narrativa, corrigindo erros e equívocos do primeiro narrador. Mas logo depois abandona o leitor no maior suspense, nas últimas linhas do livro: “E aqui interrompo para beber água. Você me espere, que eu volto já”.

O ESTADO DE S. PAULO, 23/07/88

Termino, um tanto perplexo, a leitura de Idéias para Onde Passar o Fim do Mundo, romance de autoria de João Almino, agora publicado pela Editora Brasiliense. A história, que não tem uma seqüência lógica, se passa em Brasília em uma nova era. Poder-se-ia, talvez, falar em surrealismo literário, se o significado fosse apenas um fluxo desordenado da memória. Mas a narrativa é bem mais do que isso, em matéria de elementos complicadores, o insólito surgindo com muita freqüência no curso da história ou das histórias cruzadas, perturbando assim o entendimento do significado mesmo para leitores de boa qualificação.

João Almino é diplomata de carreira, tendo vivido em vários países estrangeiros, inclusive na França, e professor de Ciência Política na Universidade de Brasília. Idéias para Onde Passar Fim do Mundo é sua estréia literária.

O romance parte de uma fotografia de grupo, cujos participantes se transformam em personagens de um roteiro de filme que o narrador deixou inconcluso ao morrer. A personagem narradora é um morto, um fantasma, portanto. Na construção do estranho roteiro, o fantasma, que é o narrador, passa a assumir a vida das personagens, penetrando-lhes o íntimo para movimentá-las, isto é, para fazê-las reviver os próprios destinos. Por vezes, a narração se processa ao nível linear, pelo menos aparentemente. No entanto, algumas personagens passam de súbito da realidade comum, inteligível por qualquer tipo de leitor, para uma irrealidade alucinante que somente poderá desnudar-se com a decifração de numerosos elementos referenciais míticos, místicos, irracionais, fantásticos em que se apóia.

O romance é, sem dúvida, um exercício de inteligência e cultura geral, em função do que nascem os paradoxos, as antinomias, os enigmas mais perturbadores. Como se tudo isso não bastasse – o fantasma narrador assumindo a vida das personagens como se seu espírito houvesse baixado num terreiro de macumba para animar as criaturas estáticas da fotografia, e outras que ali não estão -, a narrativa aborda a aparição de discos voadores, o governo de um presidente negro do Brasil e uma nova era a partir do Ano I, anunciando o fim do mundo. Deve-se dizer que a linguagem literária utilizada é das melhores e que as reflexões sobre o homem e seus relacionamentos refletem a vida tumultuária de nossos dias.

Outro elemento complicador surge no final do romance: um fantasma, que antes era apenas personagem, passa a se incumbir da narrativa, corrigindo erros e equívocos do primeiro narrador. Mas logo depois abandona o leitor no maior suspense, nas últimas linhas do livro: “E aqui interrompo para beber água. Você me espere, que eu volto já”.

O ESTADO DE S. PAULO, 23/07/88

Termino, um tanto perplexo, a leitura de Idéias para Onde Passar o Fim do Mundo, romance de autoria de João Almino, agora publicado pela Editora Brasiliense. A história, que não tem uma seqüência lógica, se passa em Brasília em uma nova era. Poder-se-ia, talvez, falar em surrealismo literário, se o significado fosse apenas um fluxo desordenado da memória. Mas a narrativa é bem mais do que isso, em matéria de elementos complicadores, o insólito surgindo com muita freqüência no curso da história ou das histórias cruzadas, perturbando assim o entendimento do significado mesmo para leitores de boa qualificação.

João Almino é diplomata de carreira, tendo vivido em vários países estrangeiros, inclusive na França, e professor de Ciência Política na Universidade de Brasília. Idéias para Onde Passar Fim do Mundo é sua estréia literária.

O romance parte de uma fotografia de grupo, cujos participantes se transformam em personagens de um roteiro de filme que o narrador deixou inconcluso ao morrer. A personagem narradora é um morto, um fantasma, portanto. Na construção do estranho roteiro, o fantasma, que é o narrador, passa a assumir a vida das personagens, penetrando-lhes o íntimo para movimentá-las, isto é, para fazê-las reviver os próprios destinos. Por vezes, a narração se processa ao nível linear, pelo menos aparentemente. No entanto, algumas personagens passam de súbito da realidade comum, inteligível por qualquer tipo de leitor, para uma irrealidade alucinante que somente poderá desnudar-se com a decifração de numerosos elementos referenciais míticos, místicos, irracionais, fantásticos em que se apóia.

O romance é, sem dúvida, um exercício de inteligência e cultura geral, em função do que nascem os paradoxos, as antinomias, os enigmas mais perturbadores. Como se tudo isso não bastasse – o fantasma narrador assumindo a vida das personagens como se seu espírito houvesse baixado num terreiro de macumba para animar as criaturas estáticas da fotografia, e outras que ali não estão -, a narrativa aborda a aparição de discos voadores, o governo de um presidente negro do Brasil e uma nova era a partir do Ano I, anunciando o fim do mundo. Deve-se dizer que a linguagem literária utilizada é das melhores e que as reflexões sobre o homem e seus relacionamentos refletem a vida tumultuária de nossos dias.

Outro elemento complicador surge no final do romance: um fantasma, que antes era apenas personagem, passa a se incumbir da narrativa, corrigindo erros e equívocos do primeiro narrador. Mas logo depois abandona o leitor no maior suspense, nas últimas linhas do livro: “E aqui interrompo para beber água. Você me espere, que eu volto já”.