Nas pegadas de Machado. Régis Bonvicino, Isto É, sobre Ideias para Onde Passar o Fim do Mundo, de João Almino

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IstoÉ 28/10/1987

Diplomata de carreira, ensaísta político de fina inteligência e professor de ciência política da Universidade Nacional de Brasília, João Almino, um rio-grandense-do-norte, 37 anos, estréia, agora, como ficcionista com a narrativa Idéias para Onde Passar o Fim do Mundo. Apoiado numa trama imaginosa e um tanto apocalíptica, como já antecipa o próprio título da obra, Almino produz, na verdade, um ensaio crítico e criativo sobre a cidade de Brasília. Mais do que cenário desta narrativa, que em muitos momentos lembra um roteiro incompleto de um filme, a capital da República acaba transformando-se na sua personagem principal, a falar através da voz, da vida e do desespero das personagens.

Num mundo à beira da destruição, um escritor morto volta à Terra para terminar o roteiro de seu filme. A semelhança com Machado de Assis, do genial Brás Cubas, não é mera coincidência. É citação, é recurso estilístico propositadamente tomado de empréstimo junto ao mestre para expressar o tom pessimista e opressivo que vai, aos poucos, contaminando a narrativa e seus atores-personagens, seres extraídos de uma antiga fotografia. “Morto, começo ren­dendo homenagem ao velho Machado. Não quero narrar minha morte”, escreve Almino. “Não me chamo Brás Cubas. Não escrevi minhas memórias. Nem dedico meu roteiro de cinema ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver. Por isso aos ratos meus rabiscos…”

Não há propriamente começo, nem meio, nem fim. Há algumas personagens, que entram e saem da história, à procura de boas idéias para se viver o fim do mundo, na cidade dos “altos burocratas de casaca”. Curioso notar a inteligente aproximação que empreende João Almino, neste livto, entre a fotografia, enquanto arte, e a morte. A fotografia, registro póstumo de um momento que já passou, não deixa assim de ser uma morte. E é da morte, uma antiga fotografia, que o “defunto autor” extrai suas personagens e as projeta numa cidade sem vida, a “cidade do futuro”, Brasília. O autor mostra-se capaz de finuras e requintes estilísticos, como no seguinte trecho. “Então enxergue: o VERde recortado que se VÊ de qualquer janela anuncia, escuro, que vai cho VER”. Na frase aparentemente inocente e prosaica, ele injeta poesia de boa qualidade, fazendo ecoar dentro das palavras o verbo ver. João Almino é, sem dúvida, com este livro, uma das felizes estréias do ano.

IstoÉ 28/10/1987

Diplomata de carreira, ensaísta político de fina inteligência e professor de ciência política da Universidade Nacional de Brasília, João Almino, um rio-grandense-do-norte, 37 anos, estréia, agora, como ficcionista com a narrativa Idéias para Onde Passar o Fim do Mundo. Apoiado numa trama imaginosa e um tanto apocalíptica, como já antecipa o próprio título da obra, Almino produz, na verdade, um ensaio crítico e criativo sobre a cidade de Brasília. Mais do que cenário desta narrativa, que em muitos momentos lembra um roteiro incompleto de um filme, a capital da República acaba transformando-se na sua personagem principal, a falar através da voz, da vida e do desespero das personagens.

Num mundo à beira da destruição, um escritor morto volta à Terra para terminar o roteiro de seu filme. A semelhança com Machado de Assis, do genial Brás Cubas, não é mera coincidência. É citação, é recurso estilístico propositadamente tomado de empréstimo junto ao mestre para expressar o tom pessimista e opressivo que vai, aos poucos, contaminando a narrativa e seus atores-personagens, seres extraídos de uma antiga fotografia. “Morto, começo ren­dendo homenagem ao velho Machado. Não quero narrar minha morte”, escreve Almino. “Não me chamo Brás Cubas. Não escrevi minhas memórias. Nem dedico meu roteiro de cinema ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver. Por isso aos ratos meus rabiscos…”

Não há propriamente começo, nem meio, nem fim. Há algumas personagens, que entram e saem da história, à procura de boas idéias para se viver o fim do mundo, na cidade dos “altos burocratas de casaca”. Curioso notar a inteligente aproximação que empreende João Almino, neste livto, entre a fotografia, enquanto arte, e a morte. A fotografia, registro póstumo de um momento que já passou, não deixa assim de ser uma morte. E é da morte, uma antiga fotografia, que o “defunto autor” extrai suas personagens e as projeta numa cidade sem vida, a “cidade do futuro”, Brasília. O autor mostra-se capaz de finuras e requintes estilísticos, como no seguinte trecho. “Então enxergue: o VERde recortado que se VÊ de qualquer janela anuncia, escuro, que vai cho VER”. Na frase aparentemente inocente e prosaica, ele injeta poesia de boa qualidade, fazendo ecoar dentro das palavras o verbo ver. João Almino é, sem dúvida, com este livro, uma das felizes estréias do ano.

IstoÉ 28/10/1987

Diplomata de carreira, ensaísta político de fina inteligência e professor de ciência política da Universidade Nacional de Brasília, João Almino, um rio-grandense-do-norte, 37 anos, estréia, agora, como ficcionista com a narrativa Idéias para Onde Passar o Fim do Mundo. Apoiado numa trama imaginosa e um tanto apocalíptica, como já antecipa o próprio título da obra, Almino produz, na verdade, um ensaio crítico e criativo sobre a cidade de Brasília. Mais do que cenário desta narrativa, que em muitos momentos lembra um roteiro incompleto de um filme, a capital da República acaba transformando-se na sua personagem principal, a falar através da voz, da vida e do desespero das personagens.

Num mundo à beira da destruição, um escritor morto volta à Terra para terminar o roteiro de seu filme. A semelhança com Machado de Assis, do genial Brás Cubas, não é mera coincidência. É citação, é recurso estilístico propositadamente tomado de empréstimo junto ao mestre para expressar o tom pessimista e opressivo que vai, aos poucos, contaminando a narrativa e seus atores-personagens, seres extraídos de uma antiga fotografia. “Morto, começo ren­dendo homenagem ao velho Machado. Não quero narrar minha morte”, escreve Almino. “Não me chamo Brás Cubas. Não escrevi minhas memórias. Nem dedico meu roteiro de cinema ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver. Por isso aos ratos meus rabiscos…”

Não há propriamente começo, nem meio, nem fim. Há algumas personagens, que entram e saem da história, à procura de boas idéias para se viver o fim do mundo, na cidade dos “altos burocratas de casaca”. Curioso notar a inteligente aproximação que empreende João Almino, neste livto, entre a fotografia, enquanto arte, e a morte. A fotografia, registro póstumo de um momento que já passou, não deixa assim de ser uma morte. E é da morte, uma antiga fotografia, que o “defunto autor” extrai suas personagens e as projeta numa cidade sem vida, a “cidade do futuro”, Brasília. O autor mostra-se capaz de finuras e requintes estilísticos, como no seguinte trecho. “Então enxergue: o VERde recortado que se VÊ de qualquer janela anuncia, escuro, que vai cho VER”. Na frase aparentemente inocente e prosaica, ele injeta poesia de boa qualidade, fazendo ecoar dentro das palavras o verbo ver. João Almino é, sem dúvida, com este livro, uma das felizes estréias do ano.

IstoÉ 28/10/1987

Diplomata de carreira, ensaísta político de fina inteligência e professor de ciência política da Universidade Nacional de Brasília, João Almino, um rio-grandense-do-norte, 37 anos, estréia, agora, como ficcionista com a narrativa Idéias para Onde Passar o Fim do Mundo. Apoiado numa trama imaginosa e um tanto apocalíptica, como já antecipa o próprio título da obra, Almino produz, na verdade, um ensaio crítico e criativo sobre a cidade de Brasília. Mais do que cenário desta narrativa, que em muitos momentos lembra um roteiro incompleto de um filme, a capital da República acaba transformando-se na sua personagem principal, a falar através da voz, da vida e do desespero das personagens.

Num mundo à beira da destruição, um escritor morto volta à Terra para terminar o roteiro de seu filme. A semelhança com Machado de Assis, do genial Brás Cubas, não é mera coincidência. É citação, é recurso estilístico propositadamente tomado de empréstimo junto ao mestre para expressar o tom pessimista e opressivo que vai, aos poucos, contaminando a narrativa e seus atores-personagens, seres extraídos de uma antiga fotografia. “Morto, começo ren­dendo homenagem ao velho Machado. Não quero narrar minha morte”, escreve Almino. “Não me chamo Brás Cubas. Não escrevi minhas memórias. Nem dedico meu roteiro de cinema ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver. Por isso aos ratos meus rabiscos…”

Não há propriamente começo, nem meio, nem fim. Há algumas personagens, que entram e saem da história, à procura de boas idéias para se viver o fim do mundo, na cidade dos “altos burocratas de casaca”. Curioso notar a inteligente aproximação que empreende João Almino, neste livto, entre a fotografia, enquanto arte, e a morte. A fotografia, registro póstumo de um momento que já passou, não deixa assim de ser uma morte. E é da morte, uma antiga fotografia, que o “defunto autor” extrai suas personagens e as projeta numa cidade sem vida, a “cidade do futuro”, Brasília. O autor mostra-se capaz de finuras e requintes estilísticos, como no seguinte trecho. “Então enxergue: o VERde recortado que se VÊ de qualquer janela anuncia, escuro, que vai cho VER”. Na frase aparentemente inocente e prosaica, ele injeta poesia de boa qualidade, fazendo ecoar dentro das palavras o verbo ver. João Almino é, sem dúvida, com este livro, uma das felizes estréias do ano.