Entre facas, algodão, de João Almino, por Antônio Torres

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Jornal de Letras, número 238, Outubro, 2018, p. 19

ENTRE FACAS, ALGODÃO
por Antônio Torres (*)

Definido pelo próprio autor como “um romance de secura e esperança teimosa”, Entre facas, algodão vem sendo tratado pela crítica literária como continuador da prosa realista, enxuta e metonímica de Graciliano Ramos, do mundo de casas repartidas dos meninos de engenho de José Lins do Rego, e até da poesia descarnada de João Cabral de Melo Neto. O que não é pouco.

Aclamado “o romancista de Brasília”, por torná-la uma metáfora do mundo moderno em seus romances anteriores, em Entre facas, algodão João Almino faz do Distrito Federal o ponto de partida para uma incursão a novos cenários, numa viagem de volta às suas origens nordestinas.

Escrito em forma de diário, este seu sétimo romance tem como protagonista um advogado em fim de carreira que deixa Taguatinga, no Planalto Central, e parte em busca das trilhas da sua infância, determinado a fazer um acerto de contas com o passado e vingar-se da morte do pai, esperando também reviver uma história de amor simbolizada pelo fio de cabelo da amada guardado numa caixa de fósforos.

Numa bem urdida trama, João Almino leva o leitor a se confrontar com a realidade de um país cada vez mais desigual, violento, desastrado, no qual os crimes mudaram apenas de armas. Enfim, um país que entrou para a modernidade sem vencer o atraso, pois vai das velhas carências ao Facebook sem que o avanço dos meios de comunicação tenha eliminado o analfabetismo.

Desse quadro perverso sobressai-se a tão aplaudida fatura literária de João Almino, há muito reconhecido como um dos nossos melhores ficcionistas, em cujas páginas “verdadeiramente antológicas”, no dizer do saudoso Moacyr Scliar, “o Brasil está resumido”. E que de romance a romance reafirma a sua técnica rigorosa, domínio de linguagem e estilo, texto atraente, tudo a merecer os louvores de alguns dos nossos mais respeitáveis críticos em atividade – Walnice Nogueira Galvão, João César de Castro Rocha, Heloisa Buarque de Holanda, José Castello, Beatriz Resende -, e de escritores consumados como Silviano Santiago, Ignácio de Loyola Brandão, Cristóvão Tezza, que definiu Entre facas, algodão como uma história clássica de amor e família, de sentimentos fraturados, que nos prende da primeira à ultima página pela sua marca estilística, de intensa leveza narrativa.

(*) O escritor Antônio Torres é o oitavo ocupante da cadeira n.o 23 da Academia Brasileira de Letras.

[:en]Jornal de Letras, número 238, Outubro, 2018, p. 19

ENTRE FACAS, ALGODÃO
por Antônio Torres (*)

Definido pelo próprio autor como “um romance de secura e esperança teimosa”, Entre facas, algodão vem sendo tratado pela crítica literária como continuador da prosa realista, enxuta e metonímica de Graciliano Ramos, do mundo de casas repartidas dos meninos de engenho de José Lins do Rego, e até da poesia descarnada de João Cabral de Melo Neto. O que não é pouco.

Aclamado “o romancista de Brasília”, por torná-la uma metáfora do mundo moderno em seus romances anteriores, em Entre facas, algodão João Almino faz do Distrito Federal o ponto de partida para uma incursão a novos cenários, numa viagem de volta às suas origens nordestinas.

Escrito em forma de diário, este seu sétimo romance tem como protagonista um advogado em fim de carreira que deixa Taguatinga, no Planalto Central, e parte em busca das trilhas da sua infância, determinado a fazer um acerto de contas com o passado e vingar-se da morte do pai, esperando também reviver uma história de amor simbolizada pelo fio de cabelo da amada guardado numa caixa de fósforos.

Numa bem urdida trama, João Almino leva o leitor a se confrontar com a realidade de um país cada vez mais desigual, violento, desastrado, no qual os crimes mudaram apenas de armas. Enfim, um país que entrou para a modernidade sem vencer o atraso, pois vai das velhas carências ao Facebook sem que o avanço dos meios de comunicação tenha eliminado o analfabetismo.

Desse quadro perverso sobressai-se a tão aplaudida fatura literária de João Almino, há muito reconhecido como um dos nossos melhores ficcionistas, em cujas páginas “verdadeiramente antológicas”, no dizer do saudoso Moacyr Scliar, “o Brasil está resumido”. E que de romance a romance reafirma a sua técnica rigorosa, domínio de linguagem e estilo, texto atraente, tudo a merecer os louvores de alguns dos nossos mais respeitáveis críticos em atividade – Walnice Nogueira Galvão, João César de Castro Rocha, Heloisa Buarque de Holanda, José Castello, Beatriz Resende -, e de escritores consumados como Silviano Santiago, Ignácio de Loyola Brandão, Cristóvão Tezza, que definiu Entre facas, algodão como uma história clássica de amor e família, de sentimentos fraturados, que nos prende da primeira à ultima página pela sua marca estilística, de intensa leveza narrativa.

(*) O escritor Antônio Torres é o oitavo ocupante da cadeira n.o 23 da Academia Brasileira de Letras.

[:es]Jornal de Letras, número 238, Outubro, 2018, p. 19

ENTRE FACAS, ALGODÃO
por Antônio Torres (*)

Definido pelo próprio autor como “um romance de secura e esperança teimosa”, Entre facas, algodão vem sendo tratado pela crítica literária como continuador da prosa realista, enxuta e metonímica de Graciliano Ramos, do mundo de casas repartidas dos meninos de engenho de José Lins do Rego, e até da poesia descarnada de João Cabral de Melo Neto. O que não é pouco.

Aclamado “o romancista de Brasília”, por torná-la uma metáfora do mundo moderno em seus romances anteriores, em Entre facas, algodão João Almino faz do Distrito Federal o ponto de partida para uma incursão a novos cenários, numa viagem de volta às suas origens nordestinas.

Escrito em forma de diário, este seu sétimo romance tem como protagonista um advogado em fim de carreira que deixa Taguatinga, no Planalto Central, e parte em busca das trilhas da sua infância, determinado a fazer um acerto de contas com o passado e vingar-se da morte do pai, esperando também reviver uma história de amor simbolizada pelo fio de cabelo da amada guardado numa caixa de fósforos.

Numa bem urdida trama, João Almino leva o leitor a se confrontar com a realidade de um país cada vez mais desigual, violento, desastrado, no qual os crimes mudaram apenas de armas. Enfim, um país que entrou para a modernidade sem vencer o atraso, pois vai das velhas carências ao Facebook sem que o avanço dos meios de comunicação tenha eliminado o analfabetismo.

Desse quadro perverso sobressai-se a tão aplaudida fatura literária de João Almino, há muito reconhecido como um dos nossos melhores ficcionistas, em cujas páginas “verdadeiramente antológicas”, no dizer do saudoso Moacyr Scliar, “o Brasil está resumido”. E que de romance a romance reafirma a sua técnica rigorosa, domínio de linguagem e estilo, texto atraente, tudo a merecer os louvores de alguns dos nossos mais respeitáveis críticos em atividade – Walnice Nogueira Galvão, João César de Castro Rocha, Heloisa Buarque de Holanda, José Castello, Beatriz Resende -, e de escritores consumados como Silviano Santiago, Ignácio de Loyola Brandão, Cristóvão Tezza, que definiu Entre facas, algodão como uma história clássica de amor e família, de sentimentos fraturados, que nos prende da primeira à ultima página pela sua marca estilística, de intensa leveza narrativa.

(*) O escritor Antônio Torres é o oitavo ocupante da cadeira n.o 23 da Academia Brasileira de Letras.