As cores embaçadas de um passado – sobre O Livro das Emoções, de João Almino. Diário do Nordeste

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CARLOS AUGUSTO VIANA

DIÁRIO DO NORDESTE, DOMINGO, 20 DE JULHO DE 2008

O autor se apresenta, ao longo da escritura, como, sobretudo, um depurador da linguagem, uma vez que, sem tal tessitura, não conseguiria construir uma narrativa em que a técnica da colagem e a superposição de planos constituem os pilares do discurso literário – o que, por sua vez, assoma disfarçado por uma aparente cronologia.

A personagem-narradora é um fotógrafo; este, aos 70 anos e, agora, cego, visa (sem trocadilhos) reconstruir, a partir de um tempo determinado – 6 de junho de 2002, numa madrugada -, de modo fragmentado, um período de sua existência. Ainda que o último instante tenha como data 9 de dezembro, não se pode, com exatidão, mensurar o tempo da narrativa, pois este, fluindo da memória, apresenta-se, naturalmente, dissolvido. Nesse sentido, as personagens e as ações, emaranhadas em capítulos que bem lembram peças de uma colagem, vivenciam ações que nem sempre correspondem, assim, a uma ordenação cronológica.

Alguns procedimentos estilísticos são dignos de nota. Em primeiro lugar, o fato de o primeiro fragmento funcionar, assim, como uma espécie de epígrafe da obra como um todo. É, pois, de natureza metalingüística. Aproximando fotografia e escritura, o narrador conduz o leitor ao universo de sua escritura: ´Fotografar é ver com o olho treinado; recortar e guardar o que se vê. Ao disparar a máquina, as fotos ficaram gravadas na mente, como espelhos do que fui. São instantes eternos, empalhados num museu íntimo´. Como se observa, a memória – fio condutor da trama – não advém dos movimentos que compuseram o fato, mas, sim, de um instante congelado, indelevelmente, pela fotografia.

Aliás, como um elemento inaugural, poder-se-ia enquadrar as fotografias que se debulham ao transcorrer da narrativa na categoria de personagens: delas brotam os acontecimentos, através delas a vida ganha novos contornos; provocam, ainda, uma fusão entre realidade e imaginação, pois, muitas vezes, a verdade da memória é a sua verdade, pouco importando uma relação indefectível entre o acontecido e o narrado.

Trata-se, então, de uma narrativa dos sentidos, e destes o privilégio recai sobre a visão. Sentido poderoso, pois implica a ponte que, magicamente, estabelecemos com a realidade, o olhar se sobrepõe aos demais por que a ele atribuímos poderes mágicos. Pelo olhar, invadimos a intimidade do outro, arrancamos-lhes a máscara; Capitu não seria Capitu, caso não houvesse aqueles olhos oblíquos e dissimulados.

A narrativa de ´O livro das emoções´, de João Almino, não prende o leitor pela seqüência de episódios. Não se trata de um romance de ação, mas, sobretudo, de um apinhado de sensações, de volições que, dissolvidas no tempo e no espaço, subitamente ganham corpo e lançam, desse modo, personagem e leitor no mesmo torvelinho. A memória é a capacidade de repetir, de ser outra vez. Ir ao encontro do passado é, de certa forma, uma travessia ontológica. A personagem, perdida de si mesma e dos outros, busca, pela memória, sob a forma de escritura, recolher um todo que a vida transformou, inexoravelmente, em pedaços.

CARLOS AUGUSTO VIANA

DIÁRIO DO NORDESTE, DOMINGO, 20 DE JULHO DE 2008

O autor se apresenta, ao longo da escritura, como, sobretudo, um depurador da linguagem, uma vez que, sem tal tessitura, não conseguiria construir uma narrativa em que a técnica da colagem e a superposição de planos constituem os pilares do discurso literário – o que, por sua vez, assoma disfarçado por uma aparente cronologia.

A personagem-narradora é um fotógrafo; este, aos 70 anos e, agora, cego, visa (sem trocadilhos) reconstruir, a partir de um tempo determinado – 6 de junho de 2002, numa madrugada -, de modo fragmentado, um período de sua existência. Ainda que o último instante tenha como data 9 de dezembro, não se pode, com exatidão, mensurar o tempo da narrativa, pois este, fluindo da memória, apresenta-se, naturalmente, dissolvido. Nesse sentido, as personagens e as ações, emaranhadas em capítulos que bem lembram peças de uma colagem, vivenciam ações que nem sempre correspondem, assim, a uma ordenação cronológica.

Alguns procedimentos estilísticos são dignos de nota. Em primeiro lugar, o fato de o primeiro fragmento funcionar, assim, como uma espécie de epígrafe da obra como um todo. É, pois, de natureza metalingüística. Aproximando fotografia e escritura, o narrador conduz o leitor ao universo de sua escritura: ´Fotografar é ver com o olho treinado; recortar e guardar o que se vê. Ao disparar a máquina, as fotos ficaram gravadas na mente, como espelhos do que fui. São instantes eternos, empalhados num museu íntimo´. Como se observa, a memória – fio condutor da trama – não advém dos movimentos que compuseram o fato, mas, sim, de um instante congelado, indelevelmente, pela fotografia.

Aliás, como um elemento inaugural, poder-se-ia enquadrar as fotografias que se debulham ao transcorrer da narrativa na categoria de personagens: delas brotam os acontecimentos, através delas a vida ganha novos contornos; provocam, ainda, uma fusão entre realidade e imaginação, pois, muitas vezes, a verdade da memória é a sua verdade, pouco importando uma relação indefectível entre o acontecido e o narrado.

Trata-se, então, de uma narrativa dos sentidos, e destes o privilégio recai sobre a visão. Sentido poderoso, pois implica a ponte que, magicamente, estabelecemos com a realidade, o olhar se sobrepõe aos demais por que a ele atribuímos poderes mágicos. Pelo olhar, invadimos a intimidade do outro, arrancamos-lhes a máscara; Capitu não seria Capitu, caso não houvesse aqueles olhos oblíquos e dissimulados.

A narrativa de ´O livro das emoções´, de João Almino, não prende o leitor pela seqüência de episódios. Não se trata de um romance de ação, mas, sobretudo, de um apinhado de sensações, de volições que, dissolvidas no tempo e no espaço, subitamente ganham corpo e lançam, desse modo, personagem e leitor no mesmo torvelinho. A memória é a capacidade de repetir, de ser outra vez. Ir ao encontro do passado é, de certa forma, uma travessia ontológica. A personagem, perdida de si mesma e dos outros, busca, pela memória, sob a forma de escritura, recolher um todo que a vida transformou, inexoravelmente, em pedaços.

CARLOS AUGUSTO VIANA

DIÁRIO DO NORDESTE, DOMINGO, 20 DE JULHO DE 2008

O autor se apresenta, ao longo da escritura, como, sobretudo, um depurador da linguagem, uma vez que, sem tal tessitura, não conseguiria construir uma narrativa em que a técnica da colagem e a superposição de planos constituem os pilares do discurso literário – o que, por sua vez, assoma disfarçado por uma aparente cronologia.

A personagem-narradora é um fotógrafo; este, aos 70 anos e, agora, cego, visa (sem trocadilhos) reconstruir, a partir de um tempo determinado – 6 de junho de 2002, numa madrugada -, de modo fragmentado, um período de sua existência. Ainda que o último instante tenha como data 9 de dezembro, não se pode, com exatidão, mensurar o tempo da narrativa, pois este, fluindo da memória, apresenta-se, naturalmente, dissolvido. Nesse sentido, as personagens e as ações, emaranhadas em capítulos que bem lembram peças de uma colagem, vivenciam ações que nem sempre correspondem, assim, a uma ordenação cronológica.

Alguns procedimentos estilísticos são dignos de nota. Em primeiro lugar, o fato de o primeiro fragmento funcionar, assim, como uma espécie de epígrafe da obra como um todo. É, pois, de natureza metalingüística. Aproximando fotografia e escritura, o narrador conduz o leitor ao universo de sua escritura: ´Fotografar é ver com o olho treinado; recortar e guardar o que se vê. Ao disparar a máquina, as fotos ficaram gravadas na mente, como espelhos do que fui. São instantes eternos, empalhados num museu íntimo´. Como se observa, a memória – fio condutor da trama – não advém dos movimentos que compuseram o fato, mas, sim, de um instante congelado, indelevelmente, pela fotografia.

Aliás, como um elemento inaugural, poder-se-ia enquadrar as fotografias que se debulham ao transcorrer da narrativa na categoria de personagens: delas brotam os acontecimentos, através delas a vida ganha novos contornos; provocam, ainda, uma fusão entre realidade e imaginação, pois, muitas vezes, a verdade da memória é a sua verdade, pouco importando uma relação indefectível entre o acontecido e o narrado.

Trata-se, então, de uma narrativa dos sentidos, e destes o privilégio recai sobre a visão. Sentido poderoso, pois implica a ponte que, magicamente, estabelecemos com a realidade, o olhar se sobrepõe aos demais por que a ele atribuímos poderes mágicos. Pelo olhar, invadimos a intimidade do outro, arrancamos-lhes a máscara; Capitu não seria Capitu, caso não houvesse aqueles olhos oblíquos e dissimulados.

A narrativa de ´O livro das emoções´, de João Almino, não prende o leitor pela seqüência de episódios. Não se trata de um romance de ação, mas, sobretudo, de um apinhado de sensações, de volições que, dissolvidas no tempo e no espaço, subitamente ganham corpo e lançam, desse modo, personagem e leitor no mesmo torvelinho. A memória é a capacidade de repetir, de ser outra vez. Ir ao encontro do passado é, de certa forma, uma travessia ontológica. A personagem, perdida de si mesma e dos outros, busca, pela memória, sob a forma de escritura, recolher um todo que a vida transformou, inexoravelmente, em pedaços.

CARLOS AUGUSTO VIANA

DIÁRIO DO NORDESTE, DOMINGO, 20 DE JULHO DE 2008

O autor se apresenta, ao longo da escritura, como, sobretudo, um depurador da linguagem, uma vez que, sem tal tessitura, não conseguiria construir uma narrativa em que a técnica da colagem e a superposição de planos constituem os pilares do discurso literário – o que, por sua vez, assoma disfarçado por uma aparente cronologia.

A personagem-narradora é um fotógrafo; este, aos 70 anos e, agora, cego, visa (sem trocadilhos) reconstruir, a partir de um tempo determinado – 6 de junho de 2002, numa madrugada -, de modo fragmentado, um período de sua existência. Ainda que o último instante tenha como data 9 de dezembro, não se pode, com exatidão, mensurar o tempo da narrativa, pois este, fluindo da memória, apresenta-se, naturalmente, dissolvido. Nesse sentido, as personagens e as ações, emaranhadas em capítulos que bem lembram peças de uma colagem, vivenciam ações que nem sempre correspondem, assim, a uma ordenação cronológica.

Alguns procedimentos estilísticos são dignos de nota. Em primeiro lugar, o fato de o primeiro fragmento funcionar, assim, como uma espécie de epígrafe da obra como um todo. É, pois, de natureza metalingüística. Aproximando fotografia e escritura, o narrador conduz o leitor ao universo de sua escritura: ´Fotografar é ver com o olho treinado; recortar e guardar o que se vê. Ao disparar a máquina, as fotos ficaram gravadas na mente, como espelhos do que fui. São instantes eternos, empalhados num museu íntimo´. Como se observa, a memória – fio condutor da trama – não advém dos movimentos que compuseram o fato, mas, sim, de um instante congelado, indelevelmente, pela fotografia.

Aliás, como um elemento inaugural, poder-se-ia enquadrar as fotografias que se debulham ao transcorrer da narrativa na categoria de personagens: delas brotam os acontecimentos, através delas a vida ganha novos contornos; provocam, ainda, uma fusão entre realidade e imaginação, pois, muitas vezes, a verdade da memória é a sua verdade, pouco importando uma relação indefectível entre o acontecido e o narrado.

Trata-se, então, de uma narrativa dos sentidos, e destes o privilégio recai sobre a visão. Sentido poderoso, pois implica a ponte que, magicamente, estabelecemos com a realidade, o olhar se sobrepõe aos demais por que a ele atribuímos poderes mágicos. Pelo olhar, invadimos a intimidade do outro, arrancamos-lhes a máscara; Capitu não seria Capitu, caso não houvesse aqueles olhos oblíquos e dissimulados.

A narrativa de ´O livro das emoções´, de João Almino, não prende o leitor pela seqüência de episódios. Não se trata de um romance de ação, mas, sobretudo, de um apinhado de sensações, de volições que, dissolvidas no tempo e no espaço, subitamente ganham corpo e lançam, desse modo, personagem e leitor no mesmo torvelinho. A memória é a capacidade de repetir, de ser outra vez. Ir ao encontro do passado é, de certa forma, uma travessia ontológica. A personagem, perdida de si mesma e dos outros, busca, pela memória, sob a forma de escritura, recolher um todo que a vida transformou, inexoravelmente, em pedaços.