João Almino – Um intérprete da realidade. Expresso, Lisboa, sobre Samba-Enredo

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Expresso, Lisboa, 26 de setembro de 1998

ENTRE os diversos caminhos seguidos pelos escritores que surgiram nas últimas décadas no Brasil, existe uma via comumente seguida: a tentativa de interpretar a realidade caótica do país a partir de simulacros processuais expostos com resultados curiosos. Creio que o primeiro autor a trabalhar sobre este esquema foi Mário de Andrade com Macunaíma, de 1927. Com esta rapsódia satírica o escritor modernista inaugurou um espaço que seria retomado de formas distintas por escritores que surgiram com este desenvolvimento. Já muito mais próximo de nós, João Ubaldo Ribeiro forjou aquele que se tornou um clássico, Viva o Povo Brasileiro, e conseguiu criar um vasto mural histórico sobre a sua terra, ao mesmo tempo em que problematizava os contornos que fizeram a cara de um país nascido num processo de mestiçagem sem igual.

O grande trunfo de João AImino é operar outros aspectos actuais emblematicamente situados na cidade de Brasília, só que o autor explora tal tendência integrando às suas narrativas temáticas que vão desde o misticismo à política. Estilisticamente, ele consegue erguer um modelo em que a história se desenvolve sem volteios arrojados. O que concentra a atenção do leitor é a estrutura em si dos livros, e a aparente simplicidade dos personagens. No primeiro livro, Ideias para onde Passar o Fim do Mundo, o narrador é defunto de um escritor que regressa à Terra para concluir o guião de um filme, e em seguida passa a se envolver no interior dos outros personagens, expondo assim as questões de cada um.

O salto mais inventivo do autor dá-se no segundo livro, Samba-Enredo, quando o escritor compõe a espinha dorsal da narrativa centrada num computador. João Almino retoma vários dos seus personagens congregados em torno do desaparecimento de um Presidente negro do Brasil. O aspecto que mais sobressai deste livro é a saída encontrada pelo autor, a mesclar o tempo da narrativa em pleno Carnaval. A lateralidade desta visão é assumida pelo computador, que está apaixonado pela sua utilizadora. Enquanto as situações se desenrolam, vemos a cidade de Brasília surgir como símbolo primordial de um Brasil ambíguo, em que as contradições se mostram vivamente.

O registo estilístico, e a estrutura do romance conjugam-se com visível segurança e crismam um autor dos mais talentosos que a literatura brasileira actual viu nascer.

 

Expresso, Lisboa, 26 de setembro de 1998

ENTRE os diversos caminhos seguidos pelos escritores que surgiram nas últimas décadas no Brasil, existe uma via comumente seguida: a tentativa de interpretar a realidade caótica do país a partir de simulacros processuais expostos com resultados curiosos. Creio que o primeiro autor a trabalhar sobre este esquema foi Mário de Andrade com Macunaíma, de 1927. Com esta rapsódia satírica o escritor modernista inaugurou um espaço que seria retomado de formas distintas por escritores que surgiram com este desenvolvimento. Já muito mais próximo de nós, João Ubaldo Ribeiro forjou aquele que se tornou um clássico, Viva o Povo Brasileiro, e conseguiu criar um vasto mural histórico sobre a sua terra, ao mesmo tempo em que problematizava os contornos que fizeram a cara de um país nascido num processo de mestiçagem sem igual.

O grande trunfo de João AImino é operar outros aspectos actuais emblematicamente situados na cidade de Brasília, só que o autor explora tal tendência integrando às suas narrativas temáticas que vão desde o misticismo à política. Estilisticamente, ele consegue erguer um modelo em que a história se desenvolve sem volteios arrojados. O que concentra a atenção do leitor é a estrutura em si dos livros, e a aparente simplicidade dos personagens. No primeiro livro, Ideias para onde Passar o Fim do Mundo, o narrador é defunto de um escritor que regressa à Terra para concluir o guião de um filme, e em seguida passa a se envolver no interior dos outros personagens, expondo assim as questões de cada um.

O salto mais inventivo do autor dá-se no segundo livro, Samba-Enredo, quando o escritor compõe a espinha dorsal da narrativa centrada num computador. João Almino retoma vários dos seus personagens congregados em torno do desaparecimento de um Presidente negro do Brasil. O aspecto que mais sobressai deste livro é a saída encontrada pelo autor, a mesclar o tempo da narrativa em pleno Carnaval. A lateralidade desta visão é assumida pelo computador, que está apaixonado pela sua utilizadora. Enquanto as situações se desenrolam, vemos a cidade de Brasília surgir como símbolo primordial de um Brasil ambíguo, em que as contradições se mostram vivamente.

O registo estilístico, e a estrutura do romance conjugam-se com visível segurança e crismam um autor dos mais talentosos que a literatura brasileira actual viu nascer.

 

Expresso, Lisboa, 26 de setembro de 1998

ENTRE os diversos caminhos seguidos pelos escritores que surgiram nas últimas décadas no Brasil, existe uma via comumente seguida: a tentativa de interpretar a realidade caótica do país a partir de simulacros processuais expostos com resultados curiosos. Creio que o primeiro autor a trabalhar sobre este esquema foi Mário de Andrade com Macunaíma, de 1927. Com esta rapsódia satírica o escritor modernista inaugurou um espaço que seria retomado de formas distintas por escritores que surgiram com este desenvolvimento. Já muito mais próximo de nós, João Ubaldo Ribeiro forjou aquele que se tornou um clássico, Viva o Povo Brasileiro, e conseguiu criar um vasto mural histórico sobre a sua terra, ao mesmo tempo em que problematizava os contornos que fizeram a cara de um país nascido num processo de mestiçagem sem igual.

O grande trunfo de João AImino é operar outros aspectos actuais emblematicamente situados na cidade de Brasília, só que o autor explora tal tendência integrando às suas narrativas temáticas que vão desde o misticismo à política. Estilisticamente, ele consegue erguer um modelo em que a história se desenvolve sem volteios arrojados. O que concentra a atenção do leitor é a estrutura em si dos livros, e a aparente simplicidade dos personagens. No primeiro livro, Ideias para onde Passar o Fim do Mundo, o narrador é defunto de um escritor que regressa à Terra para concluir o guião de um filme, e em seguida passa a se envolver no interior dos outros personagens, expondo assim as questões de cada um.

O salto mais inventivo do autor dá-se no segundo livro, Samba-Enredo, quando o escritor compõe a espinha dorsal da narrativa centrada num computador. João Almino retoma vários dos seus personagens congregados em torno do desaparecimento de um Presidente negro do Brasil. O aspecto que mais sobressai deste livro é a saída encontrada pelo autor, a mesclar o tempo da narrativa em pleno Carnaval. A lateralidade desta visão é assumida pelo computador, que está apaixonado pela sua utilizadora. Enquanto as situações se desenrolam, vemos a cidade de Brasília surgir como símbolo primordial de um Brasil ambíguo, em que as contradições se mostram vivamente.

O registo estilístico, e a estrutura do romance conjugam-se com visível segurança e crismam um autor dos mais talentosos que a literatura brasileira actual viu nascer.

 

Expresso, Lisboa, 26 de setembro de 1998

ENTRE os diversos caminhos seguidos pelos escritores que surgiram nas últimas décadas no Brasil, existe uma via comumente seguida: a tentativa de interpretar a realidade caótica do país a partir de simulacros processuais expostos com resultados curiosos. Creio que o primeiro autor a trabalhar sobre este esquema foi Mário de Andrade com Macunaíma, de 1927. Com esta rapsódia satírica o escritor modernista inaugurou um espaço que seria retomado de formas distintas por escritores que surgiram com este desenvolvimento. Já muito mais próximo de nós, João Ubaldo Ribeiro forjou aquele que se tornou um clássico, Viva o Povo Brasileiro, e conseguiu criar um vasto mural histórico sobre a sua terra, ao mesmo tempo em que problematizava os contornos que fizeram a cara de um país nascido num processo de mestiçagem sem igual.

O grande trunfo de João AImino é operar outros aspectos actuais emblematicamente situados na cidade de Brasília, só que o autor explora tal tendência integrando às suas narrativas temáticas que vão desde o misticismo à política. Estilisticamente, ele consegue erguer um modelo em que a história se desenvolve sem volteios arrojados. O que concentra a atenção do leitor é a estrutura em si dos livros, e a aparente simplicidade dos personagens. No primeiro livro, Ideias para onde Passar o Fim do Mundo, o narrador é defunto de um escritor que regressa à Terra para concluir o guião de um filme, e em seguida passa a se envolver no interior dos outros personagens, expondo assim as questões de cada um.

O salto mais inventivo do autor dá-se no segundo livro, Samba-Enredo, quando o escritor compõe a espinha dorsal da narrativa centrada num computador. João Almino retoma vários dos seus personagens congregados em torno do desaparecimento de um Presidente negro do Brasil. O aspecto que mais sobressai deste livro é a saída encontrada pelo autor, a mesclar o tempo da narrativa em pleno Carnaval. A lateralidade desta visão é assumida pelo computador, que está apaixonado pela sua utilizadora. Enquanto as situações se desenrolam, vemos a cidade de Brasília surgir como símbolo primordial de um Brasil ambíguo, em que as contradições se mostram vivamente.

O registo estilístico, e a estrutura do romance conjugam-se com visível segurança e crismam um autor dos mais talentosos que a literatura brasileira actual viu nascer.