A visão da máquina. Sobre Samba-Enredo, de João Almino. Claudia Giudice, Caderno B, Jornal do Brasil

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JORNAL DO BRASIL, Caderno B, 2/8/94

Livro inova ao usar o computador como narrador da história

Claudia Giudice

SÃO PAULO– Desde que os escritores viram no computador uma ferramenta útil na construção de suas obras, a máquina vem substituindo os gatos na categoria de melhor amigo dos candidatos a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Essa amizade levou o escritor e cônsul brasileiro em San Francisco, João Almino, a criar uma nova figura de narrador — o narrador virtual –, um dos pontos altos do seu último livro, o romance Samba-enredo. É a partir da unidade central de processamento de um computador (para os leigos, o cérebro da máquina), chamada Gígi, que o autor construiu sua trama -uma alegoria futurista sobre o Brasil.

Na capital do país, em um ano absolutamente indefinido, políticos, foliões, miseráveis e o presidente da República, o primeiro negro presidente do país, comemoram o carnaval. Esse é o .cenário reproduzido – ou construído? — pela CPU Gigi. “O que me atraiu na idéia de usar um computador nem foi meu amor pela informática, mas a possibilidade de ter um narrador que resolvesse todos os problemas narrativos do século 19”, explica João Almino, que está passando suas férias em fortaleza, depois de cuidar dos 30 mil torcedores brasileiros que estiveram na Califórnia para assistir à Copa do Mundo. “Consegui criar um narrador onisciente, em primeira pessoa, sem ter a perspectiva limitada de um personagem. 0 computador tem um campo de visão muito mais amplo”, argumenta o escritor.

A preocupação de não datar a história, tão próxima e tão distante de nós, é uma verdadeira obsessão para o escritor. Utilizando a figura do computador, João Almino manteve, enquanto autor, um saudável distanciamento e a oportunidade de imaginar histórias longínquas, que também poderiam fazer parte do presente. “A grande vantagem do narrador-máquina é o fato dele não ser humano. Ele, portanto, está distante do homem e do próprio ambiente da ação”, diz Almino, que em várias passagens do livro filosofa, enquanto narrador-máquina, sobre essa invejável posição.

Nascido em Mossoró, João Almino passou a infância e a adolescência entre o Rio de Janeiro e Fortaleza, mas morou a maior parte de sua vida adulta em Brasília, o que torna a sua narrativa rica em descrições e cheia de intimidade com a cidade. “Brasília é muito adequada a um livro de ficção, porque permite o uso de seus largos horizontes, tanto fisicamente, quanto nas idéias”, afirma o escritor, que apoiou na alegoria toda a sua trama. “Brasília é uma cidade sem história, de um grande vazio e com grandes utopias, no sentido positivo e negativo do termo”, acrescenta.

Os personagens de Samba-enredo são muito verossímeis. Tanto que o leitor dificilmente consegue escapar da tentação de buscar na história recente do país coincidências, semelhanças e inspirações. Logo no começo do livro, por exemplo, o computador descreve; “A cabeça do careca de bigode e óculos, que quase leva um tombo, anda por histórias mais antigas, de tribos e quilombos…” Seria PC Farias? 0 autor, no entanto, não

gosta desse tipo de leitura. “A minha pretensão é a de que o texto permaneça atemporal e o leitor do futuro possa apreciar no livro o que ele tem de verdadeiro”, afirma Almino, que se define como um escritor lento e metódico – “Escrevo duas horas todos os dias, apesar de demorar em média sete anos para fazer um livro.”

Professor visitante da Universidade de Berkeley, na Califórnia, onde dá aulas de literatura brasileira para americanos e europeus, João Almino tanibém é fotógrafo nas horas vagas. Ele tem a mania de carregar para onde vai sua câmera Leica M6, abastecida de slides. Essa habilidade em selecionar fragmentos da realidade e transformá-los em imagens abstratas é uma ferramenta que o escritor utiliza com maestria também em sua escrita. Com rapidez de flashes, o autor descreve imagens, combina cenas e adiciona sons, tornando a leitura dinâmica, como se a história estivesse em formato multimídia. “A mi-nha intenção foi expandir ao máximo as fronteiras do possível, sem abandonar o terreno da realidade e verossimilhança”, acrescenta o escritor, que apesar do narrador-computador, confessa escrever às vezes à mão.

JORNAL DO BRASIL, Caderno B, 2/8/94

Livro inova ao usar o computador como narrador da história

Claudia Giudice

SÃO PAULO– Desde que os escritores viram no computador uma ferramenta útil na construção de suas obras, a máquina vem substituindo os gatos na categoria de melhor amigo dos candidatos a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Essa amizade levou o escritor e cônsul brasileiro em San Francisco, João Almino, a criar uma nova figura de narrador — o narrador virtual –, um dos pontos altos do seu último livro, o romance Samba-enredo. É a partir da unidade central de processamento de um computador (para os leigos, o cérebro da máquina), chamada Gígi, que o autor construiu sua trama -uma alegoria futurista sobre o Brasil.

Na capital do país, em um ano absolutamente indefinido, políticos, foliões, miseráveis e o presidente da República, o primeiro negro presidente do país, comemoram o carnaval. Esse é o .cenário reproduzido – ou construído? — pela CPU Gigi. “O que me atraiu na idéia de usar um computador nem foi meu amor pela informática, mas a possibilidade de ter um narrador que resolvesse todos os problemas narrativos do século 19”, explica João Almino, que está passando suas férias em fortaleza, depois de cuidar dos 30 mil torcedores brasileiros que estiveram na Califórnia para assistir à Copa do Mundo. “Consegui criar um narrador onisciente, em primeira pessoa, sem ter a perspectiva limitada de um personagem. 0 computador tem um campo de visão muito mais amplo”, argumenta o escritor.

A preocupação de não datar a história, tão próxima e tão distante de nós, é uma verdadeira obsessão para o escritor. Utilizando a figura do computador, João Almino manteve, enquanto autor, um saudável distanciamento e a oportunidade de imaginar histórias longínquas, que também poderiam fazer parte do presente. “A grande vantagem do narrador-máquina é o fato dele não ser humano. Ele, portanto, está distante do homem e do próprio ambiente da ação”, diz Almino, que em várias passagens do livro filosofa, enquanto narrador-máquina, sobre essa invejável posição.

Nascido em Mossoró, João Almino passou a infância e a adolescência entre o Rio de Janeiro e Fortaleza, mas morou a maior parte de sua vida adulta em Brasília, o que torna a sua narrativa rica em descrições e cheia de intimidade com a cidade. “Brasília é muito adequada a um livro de ficção, porque permite o uso de seus largos horizontes, tanto fisicamente, quanto nas idéias”, afirma o escritor, que apoiou na alegoria toda a sua trama. “Brasília é uma cidade sem história, de um grande vazio e com grandes utopias, no sentido positivo e negativo do termo”, acrescenta.

Os personagens de Samba-enredo são muito verossímeis. Tanto que o leitor dificilmente consegue escapar da tentação de buscar na história recente do país coincidências, semelhanças e inspirações. Logo no começo do livro, por exemplo, o computador descreve; “A cabeça do careca de bigode e óculos, que quase leva um tombo, anda por histórias mais antigas, de tribos e quilombos…” Seria PC Farias? 0 autor, no entanto, não

gosta desse tipo de leitura. “A minha pretensão é a de que o texto permaneça atemporal e o leitor do futuro possa apreciar no livro o que ele tem de verdadeiro”, afirma Almino, que se define como um escritor lento e metódico – “Escrevo duas horas todos os dias, apesar de demorar em média sete anos para fazer um livro.”

Professor visitante da Universidade de Berkeley, na Califórnia, onde dá aulas de literatura brasileira para americanos e europeus, João Almino tanibém é fotógrafo nas horas vagas. Ele tem a mania de carregar para onde vai sua câmera Leica M6, abastecida de slides. Essa habilidade em selecionar fragmentos da realidade e transformá-los em imagens abstratas é uma ferramenta que o escritor utiliza com maestria também em sua escrita. Com rapidez de flashes, o autor descreve imagens, combina cenas e adiciona sons, tornando a leitura dinâmica, como se a história estivesse em formato multimídia. “A mi-nha intenção foi expandir ao máximo as fronteiras do possível, sem abandonar o terreno da realidade e verossimilhança”, acrescenta o escritor, que apesar do narrador-computador, confessa escrever às vezes à mão.

JORNAL DO BRASIL, Caderno B, 2/8/94

Livro inova ao usar o computador como narrador da história

Claudia Giudice

SÃO PAULO– Desde que os escritores viram no computador uma ferramenta útil na construção de suas obras, a máquina vem substituindo os gatos na categoria de melhor amigo dos candidatos a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Essa amizade levou o escritor e cônsul brasileiro em San Francisco, João Almino, a criar uma nova figura de narrador — o narrador virtual –, um dos pontos altos do seu último livro, o romance Samba-enredo. É a partir da unidade central de processamento de um computador (para os leigos, o cérebro da máquina), chamada Gígi, que o autor construiu sua trama -uma alegoria futurista sobre o Brasil.

Na capital do país, em um ano absolutamente indefinido, políticos, foliões, miseráveis e o presidente da República, o primeiro negro presidente do país, comemoram o carnaval. Esse é o .cenário reproduzido – ou construído? — pela CPU Gigi. “O que me atraiu na idéia de usar um computador nem foi meu amor pela informática, mas a possibilidade de ter um narrador que resolvesse todos os problemas narrativos do século 19”, explica João Almino, que está passando suas férias em fortaleza, depois de cuidar dos 30 mil torcedores brasileiros que estiveram na Califórnia para assistir à Copa do Mundo. “Consegui criar um narrador onisciente, em primeira pessoa, sem ter a perspectiva limitada de um personagem. 0 computador tem um campo de visão muito mais amplo”, argumenta o escritor.

A preocupação de não datar a história, tão próxima e tão distante de nós, é uma verdadeira obsessão para o escritor. Utilizando a figura do computador, João Almino manteve, enquanto autor, um saudável distanciamento e a oportunidade de imaginar histórias longínquas, que também poderiam fazer parte do presente. “A grande vantagem do narrador-máquina é o fato dele não ser humano. Ele, portanto, está distante do homem e do próprio ambiente da ação”, diz Almino, que em várias passagens do livro filosofa, enquanto narrador-máquina, sobre essa invejável posição.

Nascido em Mossoró, João Almino passou a infância e a adolescência entre o Rio de Janeiro e Fortaleza, mas morou a maior parte de sua vida adulta em Brasília, o que torna a sua narrativa rica em descrições e cheia de intimidade com a cidade. “Brasília é muito adequada a um livro de ficção, porque permite o uso de seus largos horizontes, tanto fisicamente, quanto nas idéias”, afirma o escritor, que apoiou na alegoria toda a sua trama. “Brasília é uma cidade sem história, de um grande vazio e com grandes utopias, no sentido positivo e negativo do termo”, acrescenta.

Os personagens de Samba-enredo são muito verossímeis. Tanto que o leitor dificilmente consegue escapar da tentação de buscar na história recente do país coincidências, semelhanças e inspirações. Logo no começo do livro, por exemplo, o computador descreve; “A cabeça do careca de bigode e óculos, que quase leva um tombo, anda por histórias mais antigas, de tribos e quilombos…” Seria PC Farias? 0 autor, no entanto, não

gosta desse tipo de leitura. “A minha pretensão é a de que o texto permaneça atemporal e o leitor do futuro possa apreciar no livro o que ele tem de verdadeiro”, afirma Almino, que se define como um escritor lento e metódico – “Escrevo duas horas todos os dias, apesar de demorar em média sete anos para fazer um livro.”

Professor visitante da Universidade de Berkeley, na Califórnia, onde dá aulas de literatura brasileira para americanos e europeus, João Almino tanibém é fotógrafo nas horas vagas. Ele tem a mania de carregar para onde vai sua câmera Leica M6, abastecida de slides. Essa habilidade em selecionar fragmentos da realidade e transformá-los em imagens abstratas é uma ferramenta que o escritor utiliza com maestria também em sua escrita. Com rapidez de flashes, o autor descreve imagens, combina cenas e adiciona sons, tornando a leitura dinâmica, como se a história estivesse em formato multimídia. “A mi-nha intenção foi expandir ao máximo as fronteiras do possível, sem abandonar o terreno da realidade e verossimilhança”, acrescenta o escritor, que apesar do narrador-computador, confessa escrever às vezes à mão.

JORNAL DO BRASIL, Caderno B, 2/8/94

Livro inova ao usar o computador como narrador da história

Claudia Giudice

SÃO PAULO– Desde que os escritores viram no computador uma ferramenta útil na construção de suas obras, a máquina vem substituindo os gatos na categoria de melhor amigo dos candidatos a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Essa amizade levou o escritor e cônsul brasileiro em San Francisco, João Almino, a criar uma nova figura de narrador — o narrador virtual –, um dos pontos altos do seu último livro, o romance Samba-enredo. É a partir da unidade central de processamento de um computador (para os leigos, o cérebro da máquina), chamada Gígi, que o autor construiu sua trama -uma alegoria futurista sobre o Brasil.

Na capital do país, em um ano absolutamente indefinido, políticos, foliões, miseráveis e o presidente da República, o primeiro negro presidente do país, comemoram o carnaval. Esse é o .cenário reproduzido – ou construído? — pela CPU Gigi. “O que me atraiu na idéia de usar um computador nem foi meu amor pela informática, mas a possibilidade de ter um narrador que resolvesse todos os problemas narrativos do século 19”, explica João Almino, que está passando suas férias em fortaleza, depois de cuidar dos 30 mil torcedores brasileiros que estiveram na Califórnia para assistir à Copa do Mundo. “Consegui criar um narrador onisciente, em primeira pessoa, sem ter a perspectiva limitada de um personagem. 0 computador tem um campo de visão muito mais amplo”, argumenta o escritor.

A preocupação de não datar a história, tão próxima e tão distante de nós, é uma verdadeira obsessão para o escritor. Utilizando a figura do computador, João Almino manteve, enquanto autor, um saudável distanciamento e a oportunidade de imaginar histórias longínquas, que também poderiam fazer parte do presente. “A grande vantagem do narrador-máquina é o fato dele não ser humano. Ele, portanto, está distante do homem e do próprio ambiente da ação”, diz Almino, que em várias passagens do livro filosofa, enquanto narrador-máquina, sobre essa invejável posição.

Nascido em Mossoró, João Almino passou a infância e a adolescência entre o Rio de Janeiro e Fortaleza, mas morou a maior parte de sua vida adulta em Brasília, o que torna a sua narrativa rica em descrições e cheia de intimidade com a cidade. “Brasília é muito adequada a um livro de ficção, porque permite o uso de seus largos horizontes, tanto fisicamente, quanto nas idéias”, afirma o escritor, que apoiou na alegoria toda a sua trama. “Brasília é uma cidade sem história, de um grande vazio e com grandes utopias, no sentido positivo e negativo do termo”, acrescenta.

Os personagens de Samba-enredo são muito verossímeis. Tanto que o leitor dificilmente consegue escapar da tentação de buscar na história recente do país coincidências, semelhanças e inspirações. Logo no começo do livro, por exemplo, o computador descreve; “A cabeça do careca de bigode e óculos, que quase leva um tombo, anda por histórias mais antigas, de tribos e quilombos…” Seria PC Farias? 0 autor, no entanto, não

gosta desse tipo de leitura. “A minha pretensão é a de que o texto permaneça atemporal e o leitor do futuro possa apreciar no livro o que ele tem de verdadeiro”, afirma Almino, que se define como um escritor lento e metódico – “Escrevo duas horas todos os dias, apesar de demorar em média sete anos para fazer um livro.”

Professor visitante da Universidade de Berkeley, na Califórnia, onde dá aulas de literatura brasileira para americanos e europeus, João Almino tanibém é fotógrafo nas horas vagas. Ele tem a mania de carregar para onde vai sua câmera Leica M6, abastecida de slides. Essa habilidade em selecionar fragmentos da realidade e transformá-los em imagens abstratas é uma ferramenta que o escritor utiliza com maestria também em sua escrita. Com rapidez de flashes, o autor descreve imagens, combina cenas e adiciona sons, tornando a leitura dinâmica, como se a história estivesse em formato multimídia. “A mi-nha intenção foi expandir ao máximo as fronteiras do possível, sem abandonar o terreno da realidade e verossimilhança”, acrescenta o escritor, que apesar do narrador-computador, confessa escrever às vezes à mão.