Almino, um diplomata que chega ao romance

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Estado do Paraná, Almanaque, 23 de dezembro de 1987

Almino, um diplomata que chega ao romance

por Aramis Millarch

Se a época não fosse de festas no âmbito familiar e pouco apropriada para novos lançamentos culturais, o diplomata João Almino poderia aproveitar a sua passagem por Curitiba, neste Natal – acompanhando sua esposa, a curitibana Bia Wouk – para fazer uma noite de autógrafos de “Idéias para onde passar o fim do mundo”, seu primeiro romance. Afinal, apoio não lhe faltaria: o jornalista Aroldo Murá, diretor do “Jornal da Indústria & Comércio” é um de seus maiores amigos e mobilizaria, facilmente, os veículos de divulgação para fazer um grande acontecimento. A idéia, talvez fique para o próximo ano, pois só há algumas semanas é que a Brasiliense colocou nas livrarias este livro de João Almino, ensaísta, diplomata e respeitado professor de Ciência Política da Universidade Nacional de Brasília.

Com “Idéias para onde passar o fim do mundo”, João Almino ingressa na ficção e como em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, o narrador da história é um homem morto, um fantasma. Mas, ao contrário da Brás Cubas, esse fantasma não conta a própria história. Com uma sutil diferença, ele incorpora a sua vida na vida e nas realidades dos seus personagens. Assim, mergulha no universo de pessoas que se consomem interiormente com seus problemas íntimos e amorosos, daquelas que depositam suas esperanças no mundo exterior (na viagem à capital do país, Brasília, ou no regresso a suas raízes), e até das que vivem num tempo cósmico e querem se comunicar com seres dos discos voadores. A história se desenvolve num tempo indefinido, misturando realidade e fantasia. Uma realidade que usa ingredientes do passado e ao mesmo tempo contém características utópicas, às vezes desejáveis e, outras vezes, terrivelmente assustadoras.

João Almino iniciou este romance em Brasília, em 1970. Depois, em Paris onde conheceu a curitibana Bia Wouk, hoje sua esposa – continuou a escrevê-lo. Estiveram em Beirute (1980-82) e na cidade do México (1982-85), voltando a Brasília, no ano passado, onde concluiu finalmente o romance.

Lêdo Ivo, lendo os originais, afiançou: “Seu romance é um livro divertido, malicioso, criativo, cheio de bossas formas e de juventude intelectual. Enfim, um romance contemporâneo”. Já a crítica Walnice Nogueira Galvão foi sintética mas generosa: – O deslizante jogo de engodos, que esta narrativa empreende, enfeitiça e leva o leitor pelo nariz.